quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Calote de empresas atinge nível mais alto em uma década


Disponível também em fredericocattani.com.br.


Aquilo que até agora parecia ser um problema das famílias superendividadas no Brasil dá pistas de que está se tornando um fenômeno maior. As empresas, principalmente as pequenas e médias, também estão deixando de pagar suas contas em dia.

Dados do Banco Central mostram que a inadimplência das pessoas jurídicas em julho ficou em 4% da carteira, patamar idêntico ao de janeiro deste ano. É o maior nível de calotes já registrado entre as empresas desde junho de 2001.

Mas não é só isso. O aperto na situação financeira já deixa como efeito colateral o aumento do número de companhias em dificuldade. Entre janeiro e agosto, foram feitos 544 pedidos de recuperação judicial, de acordo com a Serasa Experian. O volume supera em 54,6% os 352 requerimentos apresentados no mesmo período do ano passado. As solicitações de falência subiram de 1.214 para 1.367 na mesma base de comparação.

Linhas de crédito tradicionalmente usadas por companhias de menor porte registram a escalada da inadimplência desde o começo do ano. É o caso da conta garantida, espécie de cheque especial das empresas. A inadimplência, acima de 90 dias, chegou a 6,3%, o que representa 0,6 ponto percentual a mais que no início deste ano.

Muitas companhias se endividaram em 2011 e agora não conseguem honrar os pagamentos. "No ano passado, as empresas se prepararam para um forte crescimento da economia em 2012, que acabou não vindo", diz Sérgio Lulia Jacob, vice-presidente do ABC Brasil, especializado em crédito para médias empresas - segmento que mais tem sido penalizado.

Se a inadimplência alcançou as companhias de médio porte, a questão é se os calotes não podem chegar às maiores. Algumas têm recorrido à ajuda de bancos ou empresas de assessoria financeira para reestruturar suas dívidas.

Um caso extremo é o da Rede Energia, que contratou o Rothschild para remodelar suas obrigações financeiras - caras e concentradas no curto prazo. No fim de junho, o grupo tinha dívida líquida de R$ 5,5 bilhões e somava R$ 586 milhões em empréstimos de longo prazo atrasados. Os problemas financeiros são antigos, mas agora se tornaram insustentáveis.

A procura por serviços de remodelagem de dívida aumentou neste ano, segundo fontes ligadas a bancos de investimentos. Em uma renomada butique financeira, esse tipo de atividade representa cerca de 40% da receita acumulada desde janeiro.

Mesmo assim, casos extremos parecem pontuais. "Não vejo o risco de o problema subir para o topo da pirâmide. As grandes empresas estão pouco alavancadas, aproveitaram os últimos anos para alongar seus passivos. É um quadro diferente daquele da base da pirâmide", diz o executivo de um banco de investimento responsável por emissões de títulos de renda fixa.

Há ainda algumas dificuldades para empresas em processos de recuperação judicial. Segundo Antonio Aires, sócio da Navus Consultoria, especializada em renegociação de passivos, os bancos têm dificuldades para aprovar novos empréstimos para companhias nessas condições, pois o BC exige uma provisão de capital elevada, encarecendo a operação, mesmo com a garantia legal de prioridade no recebimento dessas dívidas pela Lei de Falências. "Os bancos preferem evitar que as empresas entrem em recuperação judicial."

Fonte: Valor Econômico.